Com insultos de 'moleque', Haddad discute com Nikolas e Jordy e reunião acaba em tumulto
Bolsonaristas questionaram ministros, mas não ficaram para ouvir resposta. Haddad disse que eles "correm sempre que o debate vai acontecer" e clasisficou como "um pouco de molecagem". Deputados voltaram e provocaram tumulto
A audiência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na Câmara dos Deputados sobre as medidas de compensação ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi encerrada prematuramente. Parlamentares da oposição, que reclamaram de termos usados pelo ministro, não deixaram os demais deputados fazerem perguntas, o que levou ao fim da sessão, que era realizada de forma conjunta pelas Comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira.
Assista ao encerramento da sessão:
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Perguntas de Nikolas e Jordy
Na segunda rodada de perguntas, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ) criticaram o que chamaram de gastança do governo Lula, dizendo que as medidas recentes não cobrem o déficit nas contas públicas. Antes de o ministro responder aos questionamentos, porém, eles se retiraram da audiência.
Resposta de Haddad
Ao tratar das críticas no momento de sua fala, Haddad criticou que os parlamentares não estavam presentes e chamou a atitude de “molecagem”. "Agora aparecem dois deputados, fazem as perguntas e correm do debate. Nikolas sumiu, [veio aqui] só para aparecer. Pessoas falaram, 'agora tenha maturidade’' E corre daqui, não quer ouvir explicação, quer ficar com o argumento dele. Não quer dar chance de o diálogo fazê-lo mudar de ideia", disse Haddad.
O ministro prosseguiu: "Esse tipo de atitude não é boa. Venho aqui para debater. Esse tipo de atitude de alguém que quer aparecer na rede e some. É um pouco de molecagem, e isso não é bom para a democracia".
Haddad questionou onde estavam Nikolas e Jordy quando o parlamento votou medidas para sanear o Orçamento público, com a PEC da Transição, por causa de "calotes" que foram dados pelo governo de Jair Bolsonaro. O ministro disse que Bolsonaro deu o calote nos precatórios, vendeu a Eletrobras "na bacia das almas" e lembrou do episódio em que os governadores foram tungados no ICMS com a mudança da alíquota modal para combustíveis e energia elétrica.
"Dando calote em precatório e tomando dinheiro de governador, qualquer um faz superávit", disse o ministro, falando sobre o resultado primário de 2022. Jordy havia mencionado o superávit da gestão Bolsonaro. Haddad disse que o País ainda teria vergonha de ter o quadro de Bolsonaro na galeria de presidentes e ainda disse que o governo não venderá patrimônio público para pagar dívida.
Haddad e Nikolas discutem, assista:
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Deputados retornam
Quando havia começado a terceira rodada de perguntas dos deputados, Jordy retornou ao plenário, pediu direito de resposta e rebateu Haddad com agressividade. “Eu estava em outra comissão. O ministro nos chamou de moleque. Quero te dizer, ministro, que o moleque é você, por ter aceitado o cargo dessa magnitude e só ter feito dois meses de (faculdade de) economia. Moleque é você por ter feito com que o nosso País tivesse o maior déficit fiscal da história, de R$ 230 bilhões, logo após o governo Bolsonaro ter dado superávit. E o presidente Bolsonaro ou por uma pandemia. Você, o governo Lula, é pior que uma pandemia" (sic), disse Jordy.
Ele ainda acrescentou: "não vem aqui querer cantar de galo na Câmara dos Deputados, porque você é ministro, mas eu sou deputado. Respeite o Parlamento, moleque é você", disse.
Após a fala do deputado, houve um bate-boca generalizado entre os parlamentares, com pedidos para a retirada das menções à "molecagem" e "moleque" das notas taquigráficas, que são disponibilizadas após todas as sessões - seja de comissão ou plenário - no Congresso.
Nikolas também pediu questão de ordem e tentou responder, mas o deputado Rogério Correia (PT-MG), que comandava a audiência pública, não concedeu, o que levou a um bate-boca entre Correia, Jordy, Nikolas e o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que seria o próximo a falar. Sem acordo para retomar a audiência e após pedir ordem ao plenário várias vezes, Correia encerrou a audiência antes do início da terceira rodada de perguntas.
Haddad lembra episódio com Marina e reclama de tratamento a ministros
Haddad questionou qual autoridade de governo terá disposição de vir para o Congresso depois dos episódios de confusão generalizada em comissões das Casas Legislativas. "Toda vez que um deputado, pensando nas suas redes sociais, desrespeita o ministro, como já aconteceu com a Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e hoje comigo: faz a pergunta, fala o que quer, insinua coisas, e simplesmente vai embora antes de o ministro de Estado responder... Imagina se eu fizesse o oposto", perguntou.
Ele disse entender que parlamentares têm outros compromissos, mas que seria bom ficar para ouvir os comentários sobre suas indagações especificamente. "É um direito delas fazer as perguntas, ouvir e sair do plenário. Agora, da maneira como os bolsonaristas estão fazendo — eu já ei por 2018, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro teve alta, teve autorização dos médicos para participar de debate, e fugiu. Toda vez é isso", continuou.
Esse tipo de postura, conforme Haddad, não contribui para o debate. "Daqui a pouco, esse tipo de atividade que é essencial para manter uma relação do Executivo com o Legislativo em alto nível, não vai mais acontecer", previu. "A Marina, semana retrasada, agora comigo, daqui a pouco, qual é o ministro que vai se sentir à vontade para prestar esclarecimentos?"
Para Haddad, é um "desrespeito muito grande" um ministro de Estado se dispor a ir até o Parlamento, ser questionado e não ser ouvido. "A pessoa faz uma pergunta, vomita uma porção de números errados sobre a economia, e simplesmente sai antes de ouvir a resposta. Qual é o objetivo de uma reunião como essa? Não é esclarecer a opinião pública do que está acontecendo?", indagou a jornalistas ao deixar o local. Ele estava acompanhado do secretário-executivo da Pasta, Dario Durigan.
A participação do ministro ocorre em meio à apresentação das medidas alternativas para o decreto que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Haverá uma recalibragem desse decreto, com alteração de alguns parâmetros, como o risco sacado, e uma medida provisória (MP), com a tributação de 5% para títulos atualmente isentos, como as letras de crédito, e uniformização da alíquota de Imposto de Renda para aplicações financeiras em 17,5%.
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